Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu
Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um
lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei-de levar-vos
para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também. E, para onde Eu vou,
vós sabeis o caminho.» Disse-lhe Tomé: «Senhor, não sabemos para onde vais, como
podemos nós saber o caminho?» Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a
Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. Se ficastes a conhecer-me, conhecereis
também o meu Pai. E já o conheceis, pois estais a vê-lo.» Disse-lhe Filipe: «Senhor, mostranos
o Pai, e isso nos basta!» Jesus disse-lhe: «Há tanto tempo que estou convosco, e não me
ficaste a conhecer, Filipe? Quem me vê, vê o Pai. Como é que me dizes, então, 'mostra-nos o
Pai'? Não crês que Eu estou no Pai e o Pai está em mim? As coisas que Eu vos digo não as
manifesto por mim mesmo: é o Pai, que, estando em mim, realiza as suas obras. Crede-me: Eu
estou no Pai e o Pai está em mim; crede, ao menos, por causa dessas mesmas obras. Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim também fará as obras que Eu realizo; e fará
obras maiores do que estas, porque Eu vou para o Pai,
Santo Agostinho (354-430), bispo de de Hipona (Norte de África) e doutor da Igreja
Sermão 142
"Ninguém vai ao Pai sem passar por mim"
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida." Cristo parece dizer-nos: "Por onde queres passar? Eu
sou o caminho. Onde queres chegar? Eu sou a verdade. Onde queres ficar? Eu sou a vida."
Caminhemos pois em plena segurança por este acminho; e, fora do caminho, cuidado com as
armadilhas, porque, dentro do caminho, o inimigo não ousa atacar - o caminho é Cristo - mas
fora do caminho ele monta os seus ardis...
O nosso caminho é Cristo na sua humildade; o Cristo verdade e vida é Cristo na sua grandeza,
na sua divindade. Se seguires o caminho da humildade, chegarás ao Altíssimo; se, na tua
fraqueza, não desprezares a humildade, permanecerás cheio de força no Altíssimo. Porque é
que Cristo tomou o caminho da humildade? Foi por causa da tua fraqueza que estava ali como
obstáculo intransponível; foi para te libertar dela que tão grande médico veio a ti. Não podias
ir até ele; ele veio até ti. Veio ensinar-te a humildade, esse caminho de regresso, porque era o
orgulho que nos impedia de retornar à vida que ele mesmo nos tinha feito perder...
Então, Jesus, tornando-se nosso caminho, grita-nos: "Entrai pela porta estreita!" (Mt 7,13). O
homem esforça-se por entrar mas o inchaço do orgulho impede-nos de tal. Aceitemos o
remédio da humildade, bebamos esse medicamento amargo mas salutar... O homem inchado
de orgulho pergunta: "Como poderei entrar?" Cristo responde: "Eu sou o caminho, entra por
mim. Eu sou a porta (Jo 10,7), porquê procurar noutro sítio?" Para que não te percas, ele fezse
tudo por ti e diz-te: "Sê humilde, sê manso" (Mt 11,29).
São Tomás de Aquino (1225-1274), téologo dominicano, doutor da Igreja
Comentário ao evangelho de S. João, 14,2
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»
Cristo é ao mesmo tempo o caminho e o fim: o caminho, pela sua humanidade, o fim, pela sua
divindade. Assim, enquanto homem que é, diz: «Eu sou o Caminho» e, enquanto Deus que é,
a isto acrescenta: «A Verdade e a Vida». Estas duas últimas palavras designam bem o fim
desse caminho, pois o fim desse caminho é o fim do desejo humano [...]. Cristo é o caminho
para se atingir o conhecimento da verdade, sendo Ele próprio a verdade: «Ensina-me, Senhor,
o teu caminho, e caminharei na verdade» (Sl 85,11). E Cristo é o caminho para se chegar à
vida, sendo Ele próprio a vida: «Hás-de ensinar-me o caminho da vida» (Sl 15,11) [...].
Se procuras pois um caminho a seguir, segue a Cristo, pois Ele próprio é o caminho: «Este é o
caminho a seguir» (Is 30,21). E comenta Santo Agostinho: «Caminha seguindo o homem e
chegarás a Deus». Porque mais vale coxear durante o caminho do que caminhar a passos
largos mas fora do caminho. Aquele que no caminho coxeia, mesmo se não avançar,
aproxima-se do seu fim: mas aquele que caminha fora do caminho, quanto mais
denodadamente correr, mais do seu fim se afastará.
Se procuras para onde ir, sê unido a Cristo, porque Ele é em pessoa a verdade a que
desejamos chegar: «Sim, é a verdade que a minha boca proclama» (Pr 8,7). Se procuras onde
ficar, fica junto a Cristo porque Ele é, em pessoa, a vida: «Aquele que me encontrar,
encontrará a vida» (Pr 8,35).
Catecismo da Igreja Católica
§ 257-258, 260
"Ninguém vai ao Pai senão por mim"
"Ó luz, Trindade bendita. Ó primordial Unidade"! Deus é beatitude eterna, vida imortal, luz
sem ocaso. Deus é amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Livremente, Deus quer comunicar a
glória de sua vida bem-aventurada. Este é o "desígnio" de benevolência (Ef 1,9) que ele
concebeu desde antes da criação do mundo no seu Filho bem-amado, predestinando-nos à
adoção filial neste" Ef 1,5), isto é, "a reproduzir a imagem do seu Filho" (Rm 8,29) graças ao
"Espírito de adopção filial" (Rm 8,5). Esta decisão prévia é uma "graça concedida antes de
todos os séculos" (2Tm 1,9), proveniente directamente do amor trinitário. Ele se desdobra na
obra da criação, em toda a história da salvação após a queda, nas missões do Filho e do
Espírito, prolongadas pela missão da Igreja.
Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Pois, da mesma forma que a
Trindade não tem senão uma única e mesma natureza, assim também não tem senão uma
única e mesma operação. "O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das
criaturas, mas um só princípio". Contudo cada pessoa divina cumpre a obra comum segundo
sua propriedade pessoal. Assim a Igreja confessa, na linha do Novo Testamento: "Um Deus e
Pai do qual são todas as coisas, um Senhor Jesus Cristo mediante o qual são todas as coisas,
um Espírito Santo em quem são todas as coisas". São sobretudo as missões divinas da
Encarnação do Filho e do dom do Espírito Santo que manifestam as propriedades das pessoas
divinas.
O fim último de toda a Economia divina é a entrada das criaturas na unidade perfeita da
Santíssima Trindade. Mas desde já somos chamados a ser habitados pela Santíssima Trindade:
"Se alguém me ama - diz o Senhor -, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará e viremos
a ele, e faremos nele a nossa morada" (Jo 14,23):
"Ó meu Deus, Trindade que adoro, ajudai-me a esquecer-me inteiramente para firmar-me em
Vós, imóvel e pacifica, como se a minha alma já estivesse na eternidade: que nada consiga
perturbar a minha paz nem fazer-me sair de Vós, ó meu Imutável, mas que cada minuto me
leve mais longe na profundidade do vosso Mistério! Pacificai a minha alma! Fazei dela o
vosso céu, vossa amada morada e o lugar do vosso repouso. Que nela eu nunca vos deixe só,
mas que eu esteja aí, toda inteira, completamente vigilante na minha fé, toda adorante, toda
entregue à vossa acção criadora" (Beata Isabel da Trindade).
Homilia de Bento XVI na vigília da noite de Páscoa
CIDADE DO VATICANO, domingo, 23 de março de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos a
homilia pronunciada por Bento XVI na Vigília da Noite de Páscoa.
* * *
Amados irmãos e irmãs,
No seu discurso de despedida, Jesus anunciou aos discípulos sua morte e ressurreição
iminentes, com uma frase misteriosa: «Vou partir, mas voltarei para junto de vós» (Jo 14, 28).
Morrer é partir. Embora fique ainda o corpo do morto – este pessoalmente partiu para o
desconhecido e não podemos segui-lo (cf. Jo 13, 36). Mas, no caso de Jesus, há uma novidade
única que muda o mundo. Na nossa morte, a partida é uma realidade definitiva, não há
regresso. Pelo contrário Jesus, falando da sua morte, diz: «Vou partir, mas voltarei para junto
de vós». É precisamente partindo que Ele vem. A sua partida inaugura um modo totalmente
novo e maior da sua presença. Com a sua morte, Jesus entra no amor do Pai. A sua morte é
um acto de amor. O amor, porém, é imortal. Por isso, a sua partida transforma-se numa nova
vinda, numa forma de presença mais profunda que não acaba mais. Na sua vida terrena, Jesus,
como todos nós, estava ligado às condições externas da existência corpórea: a um certo lugar
e a um determinado tempo. A corporeidade coloca limites à nossa existência. Não podemos
estar contemporaneamente em dois lugares diferentes. O nosso tempo tende a acabar. E entre
o “eu” e o “tu” existe o muro da alteridade. Certamente, no amor, podemos de algum modo
entrar na existência do outro. Mas permanece a barreira intransponível de sermos diversos.
Pelo contrário, Jesus, que agora fica totalmente transformado por meio do acto de amor, está
livre de tais barreiras e limites. É capaz não só de passar através das portas externas fechadas,
como narram os Evangelhos (cf. Jo 20, 19), mas pode também passar através da porta interna
entre o “eu” e o “tu”, a porta fechada entre o ontem e o hoje, entre o passado e o amanhã. No
dia da sua entrada triunfal em Jerusalém, quando um grupo de Gregos veio pedir para O ver,
Jesus respondeu com a parábola do grão de trigo que, para dar muito fruto, deve passar
através da morte. Predissera assim o seu próprio destino: Ele não queria simplesmente falar
então com este ou aquele Grego durante alguns minutos. Através da sua cruz, mediante a sua
partida, por meio da sua morte como o grão de trigo chegaria verdadeiramente até junto dos
Gregos, de tal modo que estes pudessem vê-Lo e tocá-Lo na fé. A sua partida torna-se uma
vinda no modo universal da presença do Ressuscitado, no qual Ele está presente ontem, hoje e
para sempre; em que abraça todos os tempos e lugares. Agora pode ultrapassar também o
muro da alteridade que separa o “eu” do “tu”. Assim aconteceu com Paulo, que descreve o
processo da sua conversão e do seu Baptismo com estas palavras: «Já não sou eu que vivo, é
Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20). Por meio da vinda do Ressuscitado, Paulo obteve uma
identidade nova. O seu “eu” fechado abriu-se. Agora vive em comunhão com Jesus Cristo, no
grande “eu” dos crentes que se tornaram – segundo definição dele – «um em Cristo» (Gal 3,
28).
Queridos amigos, deste modo resulta evidente que as palavras misteriosas de Jesus, no
Cenáculo, agora – por meio do Baptismo – se tornam de novo presentes para vós. No
Baptismo, o Senhor entra na vossa vida pela porta do vosso coração. Já não estamos um ao
lado do outro ou um contra o outro. Ele atravessa todas estas portas. A realidade do Baptismo
consiste nisto: Ele, o Ressuscitado, vem; vem até vós e une a sua vida com a vossa
conservando-vos dentro do fogo vivo do seu amor. Passais a ser uma unidade: sim, um só
com Ele e, deste modo, um só entre vós. Num primeiro momento, isto pode parecer bastante
teórico e pouco realista. Mas quanto mais viverdes a vida de baptizados, tanto mais podereis
experimentar a verdade desta palavra. As pessoas baptizadas e crentes nunca são
verdadeiramente estranhas uma à outra. Podem separar-nos continentes, culturas, estruturas
sociais ou mesmo distâncias históricas. Mas, quando nos encontramos, reconhecemo-nos com
base no mesmo Senhor, na mesma fé, na mesma esperança e no mesmo amor, que nos
formam. Então experimentamos que o fundamento das nossas vidas é o mesmo.
Experimentamos que, no mais fundo do nosso íntimo, estamos ancorados à mesma identidade,
a partir da qual todas as diferenças exteriores, por maiores que sejam, resultam secundárias.
Os crentes nunca são totalmente estranhos um ao outro. Estamos em comunhão por causa da
nossa identidade mais profunda: Cristo em nós. Deste modo, a fé é uma força de paz e
reconciliação no mundo: fica superada a distância, no Senhor tornamo-nos próximos (cf. Ef 2,
13).
Esta natureza íntima do Baptismo como dom de uma nova identidade é representada pela
Igreja através de elementos sensíveis. O elemento fundamental do Baptismo é a água; ao lado
desta e em segundo lugar, temos a luz, que, na liturgia da Vigília Pascal, sobressai com
grande vigor. Lancemos apenas um olhar sobre estes dois elementos. No capítulo conclusivo
da Carta aos Hebreus, encontra-se uma afirmação sobre Cristo, na qual não aparece
directamente a água, mas, vista na sua ligação com o Antigo Testamento, deixa transparecer o
mistério da água e o seu significado simbólico. Diz o texto: «O Deus da paz fez voltar dos
mortos o Pastor grande das ovelhas em virtude do sangue de uma aliança eterna» (cf. 13, 20).
Ecoa, nesta frase, um trecho do Livro de Isaías, onde Moisés é designado como o pastor que o
Senhor fez sair da água, do mar (cf. 63, 11). Jesus aparece como o novo e definitivo Pastor
que leva a cumprimento o que Moisés tinha feito: Ele conduz-nos fora das águas mortíferas
do mar, fora das águas da morte. Neste contexto, convém recordar que Moisés tinha sido
colocado pela mãe num cesto e deposto no Nilo. Depois, pela providência de Deus, fora tirado
para fora da água, trazido da morte à vida, e assim – salvo ele próprio das águas da morte –
podia conduzir os outros fazendo-os passar através do mar da morte. Por nós, Jesus desceu às
águas obscuras da morte. Mas, em virtude do seu sangue – diz-nos a Carta aos Hebreus – foi
feito voltar da morte: o seu amor uniu-se ao do Pai e, assim, da profundidade da morte Ele
pôde subir para a vida. Agora eleva-nos a nós da morte para a vida verdadeira. Sim, isto
mesmo acontece no Baptismo: Jesus levanta-nos para Ele, atrai-nos para dentro da verdadeira
vida. Conduz-nos através do mar frequentemente tão obscuro da história, em cujas confusões
e perigos não é raro sentirmo-nos ameaçados de afundar. No Baptismo como que nos toma
pela mão, conduz-nos pelo caminho que passa através do Mar Vermelho deste tempo e
introduz-nos na vida duradoura, na vida verdadeira e justa. Agarremos bem a sua mão!
Suceda o que suceder e implicando mais ou menos connosco, não larguemos a sua mão!
Caminharemos então pela via que conduz à vida.
Em segundo lugar, temos o símbolo da luz e do fogo. Gregório de Tours refere o costume,
que em diversos lugares se conservou durante muito tempo, de tomar o fogo novo, para a
celebração da Vigília Pascal, directamente do sol por meio de um cristal: luz e fogo recebiamse
novamente, por assim dizer, do céu para depois, a partir deles, se acenderem todas as luzes
e fogos do ano. Isto é um símbolo do que celebramos na Vigília Pascal. Com a radicalidade
do seu amor, no qual se tocaram o coração de Deus e o coração do homem, Jesus tomou
verdadeiramente a luz do céu e trouxe-a à terra – a luz da verdade e o fogo do amor que
transformam o ser do homem. Ele trouxe a luz, e agora sabemos quem e como é Deus. De
igual modo sabemos também como estão as coisas a respeito do homem: o que somos nós e
para que fim existimos. Ser baptizados significa que o fogo desta luz desce ao nosso íntimo.
Por isso, na Igreja Antiga, o Baptismo era chamado também o Sacramento da Iluminação: a
luz de Deus entra em nós; assim nos tornamos nós próprios filhos da luz. Esta luz da verdade
que nos aponta o caminho, não deixemos que se apague. Protejamo-la contra todas as forças
que pretendem extingui-la para nos lançar novamente na escuridão de Deus e de nós mesmos.
De vez em quando a escuridão pode-nos parecer cómoda. Posso esconder-me e passar a
minha vida dormindo. Nós, porém, não somos chamados a viver nas trevas, mas na luz. Nas
promessas baptismais, por assim dizer acendemos novamente, ano após ano, esta luz: sim,
creio que o mundo e a minha vida não provêm do acaso, mas da Razão eterna e do Amor
eterno, são criados por Deus omnipotente. Sim, creio que em Jesus Cristo, na sua encarnação,
na sua cruz e ressurreição, se manifestou o Rosto de Deus; que, n’Ele, Deus está presente no
meio de nós, nos une e conduz para a nossa meta, para o Amor eterno. Sim, creio que o
Espírito Santo nos dá a Palavra da verdade e ilumina o nosso coração; creio que, na comunhão
da Igreja, nos tornamos todos um só Corpo com o Senhor e, deste modo, vamos ao encontro
da ressurreição e da vida eterna. O Senhor deu-nos a luz da verdade. Esta luz é ao mesmo
tempo também fogo, força que nos vem de Deus: uma força que não destrói, mas quer
transformar os nossos corações, para nos tornarmos verdadeiramente homens de Deus e para
que a sua paz se torne operativa neste mundo.
Na Igreja Antiga, havia o costume de o Bispo ou o sacerdote, após a homilia, exortar os
crentes exclamando: “Conversi ad Dominum – agora voltai-vos para o Senhor”. Isto
significava, antes de mais, que eles se viravam para o Oriente – na direcção donde nasce o sol
como sinal de Cristo que volta, saindo ao seu encontro na celebração da Eucaristia. Nos
lugares onde isso, por qualquer razão, não era possível fazer-se, os crentes voltavam-se para a
imagem de Cristo na ábside ou para a cruz, a fim de se orientarem interiormente para o
Senhor. Com efeito, em última análise era deste facto interior que se tratava: da conversio, de
voltar a nossa alma para Jesus Cristo e, n’Ele, para o Deus vivo, para a luz verdadeira. Com
isto estava ligada também a outra exclamação, que ainda hoje é dirigida à comunidade cristã,
antes do Cânone: “Sursum corda– corações ao alto”, fora de todos os enredos das nossas
preocupações, dos nossos desejos, das nossas angústias, do nosso alheamento – ao alto, os
vossos corações, o vosso íntimo! Nas duas exclamações, somos de algum modo exortados a
uma renovação do nosso Baptismo: Conversi ad Dominum – sempre de novo nos devemos
afastar das direcções erradas, em que tão frequentemente nos movemos com o nosso pensar e
agir. Sempre de novo nos devemos voltar para Ele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida.
Sempre de novo nos devemos tornar “convertidos”, com toda a vida voltada para o Senhor. E
sempre de novo devemos deixar que o nosso coração seja subtraído à força da gravidade, que
o puxa para baixo, e levantá-lo interiormente para o alto: para a verdade e o amor. Nesta hora,
agradeçamos ao Senhor, porque Ele, com a força da sua palavra e dos sacramentos sagrados,
nos orienta na justa direcção e atrai para o alto o nosso coração. E rezemos-Lhe deste modo:
Sim, Senhor, fazei que nos tornemos pessoas pascais, homens e mulheres da luz, repletos do
fogo do teu amor. Amen.
[Tradução do original italiano distribuída pela Santa Sé.
© Copyright 2008 - Libreria Editrice Vaticana]
Pregador do Papa: O homem é mais que pó?
Comentário do padre Raniero Cantalamessa à liturgia do próximo domingo
ROMA, sexta-feira, 18 de abril de 2008 (ZENIT.org).- Publicamos o comentário do padre
Raniero Cantalamessa, OFM Cap. --predicador da Casa Pontifícia-- à Liturgia da Palavra do
próximo domingo, V de Páscoa.
* * *
V Domingo de Páscoa
At 6, 1-7, Pd 2 ,4-9; Jo 14, 1-12
No livro do Gênesis, lê-se que depois do pecado, Deus disse ao homem: «Comerás o teu pão
com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de
tornar» (Gn. 3, 19). Todos os anos, na Quarta-feira de Cinzas, a liturgia repete esta severa
advertência: «Recorda-te que és pó e ao pó voltarás». Se dependesse de mim, tiraria
imediatamente esta fórmula da liturgia. Justamente agora, a Igreja permite substituí-la por
outra: «Convertei e crede no Evangelho». Tomada ao pé da letra, sem as devidas explicações,
aquelas palavras são a expressão perfeita do ateísmo científico moderno: o homem não é mais
que um amontoado de átomos que se dissolverá, ao final, em outro amontoado de átomos.
O Qohélet (Eclesiastes, N do T.), um livro da Bíblia escrito em uma época de crise das
certezas religiosas em Israel, parece confirmar esta interpretação atéia quando escreve:
«Todos caminham para um mesmo lugar, todos saem do pó e para o pó voltam. Quem sabe se
o sopro de vida dos filhos dos homens se eleva para o alto, e o sopro de vida dos brutos desce
para a terra?» (Qo 3, 20-21). No final do livro, esta última terrível dúvida (quem sabe se há
diferença entre a sorte final do homem e a do animal) parece resolvida de modo positivo,
porque o autor diz: «antes que a poeira retorne à terra para se tornar o que era; e antes que o
sopro de vida retorne a Deus que o deu» (Qo 12, 7). Nos últimos escritos do Antigo
Testamento, começa, é verdade, a abrir caminho a idéia de uma recompensa dos justos depois
da morte, e até a de uma ressurreição dos corpos, mas é uma crença ainda bastante vaga no
conteúdo e não compartilhada por todos, por exemplo, pelos saduceus.
Neste contexto, podemos avaliar a novidade das palavras com que começa o Evangelho do
domingo: «Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas moradas. Não fora assim, e eu vos teria dito; pois vou preparar-vos
um lugar. Depois de ir e vos preparar um lugar, voltarei e tomar-vos-ei comigo, para que,
onde eu estou, também vós estejais». Contêm a resposta cristã à mais inquietante das
perguntas humanas. Morrer não é – como estava nos inícios da Bíblia e no mundo pagão –
baixar ao Xeol ou ao Hades para levar ali uma vida de larvas ou de sombras; não é – como
para certos biólogos ateus – restituir à natureza o próprio material orgânico para um posterior
uso por parte de outros seres vivos; tampouco é – como em certas formas de religiosidade
atuais que se inspiram em doutrinas orientais (com freqüência mal entendidas) – dissolver-se
como pessoa no grande mar da consciência universal, no Todo ou, segundo os casos, no
Nada... É, em contrapartida, ir estar com Cristo no seio do Pai, ser onde Ele é.
O véu do mistério não se ergueu porque não pode suprimir-se. Assim como não pode
descrever o que é a cor um cego de nascimento, ou o som um surdo, tampouco se pode
explicar o que é a vida fora do tempo e do espaço quem ainda está no tempo e no espaço. Não
é Deus quem quis manter-nos na obscuridade... Nos disse, no entanto, o essencial: a vida
eterna será uma comunhão plena, alma e corpo, com Cristo ressuscitado, compartilhar sua
glória e sua alegria.
O Papa Bento XVI, em sua recente encíclica sobre a esperança (Spe salvi), reflete sobre a
natureza da vida eterna desde um ponto de vista também existencial. Começa observando que
há pessoas que não desejam em absoluto uma vida eterna, que inclusive têm medo. Para que
serve – perguntam-se – prolongar uma existência que se revela cheia de problemas e de
sofrimentos?
A razão deste temor, explica o Papa, é que não se consegue pensar na vida mais que nos
modos que conhecemos aqui embaixo; enquanto que se trata, sim, de vida, mas sem todas as
limitações que experimentamos no presente. A vida eterna – diz na encíclica – será
submergir-se no oceano do amor infinito, no qual o tempo – o antes e o depois – já não existe.
Não será um contínuo suceder-se de dias do calendário, mas como o momento pleno de
satisfação, no qual a totalidade nos abraça e nós abraçamos a totalidade.
Com estas palavras, o Papa alude talvez, tacitamente, à obra de um famoso compatriota seu. O
ideal do Fausto, de Goethe, é de fato precisamente alcançar a plenitude de vida e tal satisfação
que o faça exclamar: «Detêm-te, instante, és tão belo!». Creio que esta é a idéia menos
inadequada que podemos ter da vida eterna: um instante que desejaríamos que não acabasse
nunca e que – diferentemente de todos os instantes de felicidade daqui de baixo – não
terminasse jamais! Vêm-me à memória as palavras de um dos cantos mais amados pelos
cristãos de língua inglesa: «Amazing grace». Diz: «E quando ali tenhamos estado há dez mil
anos, / brilhando como o sol, / o tempo que nos fica para louvar a Deus / não será inferior que
quando tudo começou» (When we've been there ten thousand years, / Bright shining as the
sun, / We've no less days to sing God's praise / Than when we've first begun.)
[Traduzido por Zenit]
S. Bernardo (1091-1153), monge de Cister e doutor da Igreja.
Tratado sobre os graus de humildade.
«Para ir para onde eu vou, vós sabeis o caminho»
«Eu sou o caminho, a verdade e a vida».
O caminho, é a humildade, que conduz à verdade. A humildade é o sofrimento; a verdade é o
fruto do sofrimento. Tu poderás perguntar-me: como é que sabes que Ele fala de humildade,
se apenas diz: «Eu sou o caminho»? Porém é Ele mesmo que responde quando acrescenta:
«aprendei de mim que sou manso e humilde de coração»(Mt 11,29). Ele apresenta-se portanto
como exemplo de humildade e de mansidão. Se tu O imitares, não andarás nas trevas mas
terás a luz da vida (Jo 8, 12). O que é a luz da vida senão a verdade? Ela ilumina todo o
homem que vem a este mundo (Jo 1,9); ela mostra-lhe a verdadeira vida...
Eu vejo o caminho, é a humildade; eu desejo o fruto, é a verdade. Mas que fazer se a estrada é
demasiado difícil para que eu possa chegar até onde desejo? Escutai a Sua resposta: «Eu sou o
caminho, quer dizer o viático que te sustentará ao longo desta estrada».
Àqueles que se enganam e não conhecem o caminho, Ele exclama: «Sou eu que sou o
caminho»; àqueles que duvidam e não acreditam: «Sou eu que sou a verdade»; aos que já
estão em marcha mas se fatigam: «Eu sou a vida».
Escutai ainda isto: «Eu te bendigo Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste isto - esta
verdade secreta - aos sábios e aos inteligentes, quer dizer aos orgulhosos, e as revelaste aos
pequeninos, quer dizer aos humildes» (Lc 10,21) ...
Escutai a verdade a falar àqueles que a procuram: «Vinde a mim, vós que me desejais e sereis
saciados com os meus frutos» (Eccl 24,19) e ainda «Vinde a mim, vós todos os que sofreis e
tombais sob o peso do vosso fardo que eu vos aliviarei» ( Mt 11, 28).
Vinde, diz- Ele. Mas para onde? Até mim, a verdade. Por onde? Pelo caminho da humildade.
„Na casa do Pai há muitas moradas“ … Jo 14,2
1. Eu quis comer esta ceia agora / pois vou morrer, já chegou minha hora.
[:Comei, tomai e meu corpo e meu sangue que dou. / Vivei no amor. / Eu vou preparar a
ceia na casa do Pai.:]
2. Comei, o páo é meu corpo imolado / por vós perdão para todo pecado.
3. E vai nascer do meu sangue a esperanca / o amor, a paz, uma nova aliança.
4. Eu vou partir, deixo o meu testamento. / Vivei no amor, eis o meu mandamento.
5. Irei ao Pai; sinto a vossa tristeza. / Porém, no céu, vos peparo outra mesa.
6. De Deus virá o Espírito Santo / que vou mandar enxugar vosso pranto.
7. Eu vou, mas vós Me vereis novamente. / Estais em Mim e Eu em vós ´stou presente.
Waldeci Farias - Cantemos ….. n° 670
Santa Catarina de Sena (1347-1380), terceira dominicana, doutora da igreja, co-padroeira da
Europa
Oração 16
http://youtu.be/OHH1Ametpw8
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